sábado, febrero 06, 2016

Luca Argel / Dos poemas











HACE CUÁNTO TIEMPO NO ME CORTABA EL DEDO
CON UN PAPEL

prefiero que me enseñes frases
en cantonés
todos los proverbios
yo hablaría a través de proverbios
habría un proverbio para cada cosa
uno para dar los buenos días
otro para pedir permiso
otro para preguntar la hora
otro para pedir cien gramos de queso de cabra
en los mercados de macau
habría un proverbio para atender el teléfono
un proverbio para disculparse por la demora
e incluso uno para avisar
que dejé tus llaves en aquel lugar que acordamos
en caso de que algo ocurriera
y el proverbio sería algo así c
omo a nadie despierta el canto
de un pájaro remoto


LA FLECHA DE HIELO DE BORGES ES LA ÚLTIMA HISTORIA
MAL CONTADA

que usas cuando todos
ya se cansaron del hombre
que sostiene un palito
en medio del desierto
cuando todos ya se cansaron del hombre
que enciende un mechero dentro del cajón
cuando todos ya se cansaron del hombre
que usa el ascensor solamente
en días de lluvia — y de pronto
comienzan a preguntarse
qué son finalmente estos frascos
de remedios coloridos
desparramados por el suelo de tu sala.

Luca Argel (Río de Janeiro, Brasil, 1988)





Me olvidé de fijar el grafito,
traducción de Aníbal Cristobo,
Kriller71 ediciones,
Barcelona, 2015








HÁ QUANTO TEMPO EU NÃO CORTAVA O DEDO COM PAPEL prefiro que você me ensine / frases em cantonês / todos os provérbios / eu falaria através de provérbios / haveria um provérbio para cada coisa / um para dar bom dia / outro para pedir licença / outro para perguntar as horas / outro para pedir cem gramas de queijo de cabra / nos mercados de macau / haveria um provérbio para atender o telefone / um provérbio para se desculpar pelo atraso / e ainda um para avisar / que eu deixei as suas chaves / naquele lugar que nós combinamos / caso algo acontecesse / e o provérbio seria algo como / a ninguém acorda o canto / de um pássaro remoto

A FLECHA DE GELO DE BORGES É A ÚLTIMA HISTÓRIA MAL-CONTADA que você usa quando todos / já se cansaram do homem / segurando um palito / no meio do deserto / quando todos já se cansaram do homem / acendendo um isqueiro / dentro do caixão / quando todos já se cansaram do homem / usando o elevador apenas / em dias de chuva - e de repente / começam a se perguntar / o que são afinal estes vidrinhos / de remédios coloridos / espalhados pelo chão da sua sala.



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